terça-feira, 20 de outubro de 2009

No escuro

A luz apagou.
O antro de meus temores abre as portas para a madrugada.
E assim, espero que o tempo me surpreenda com a letargia dos sentidos.
Espero na doce morte das horas, onde o devaneio me levar.
Pode ser o incontido e o insano, pode alimentar meus medos, pode acorrentar meus sonhos na insensatez.
Pode até ser que o prazer me encontre vagando em busca de companhia.
Estou entregue ao sabor da bruma, que se mostra mistério e paixão quando me permito ser possuído pela narcose noturna, senhora de meus desejos.
Há momentos nos quais me deixa, para logo me arrebatar.
É como se me levantasse de suas ondas, onde lentamente me afogo, onde o gozo de estar vivo é o prêmio para quem se aventura em seus braços.
Os goles da tua essência me permitem o proibido, me acusam, me inocentam, me trazem as dores de parto por um amor ou por morte, pela vida e pela vingança, pelo beijo e pelo tapa.
Teu desvairio me fascina. Joga-me entre os santos e os sórdidos, conduze-me por entre tuas formas.
E assim, me embriago em teus braços, pelas areias do tempo, para enganar minha dor, para iludir minha fome, para me drogar de mim mesmo.
És a paga, o consolo, o que resta, quando novamente a luz apagar.

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