terça-feira, 20 de outubro de 2009
Estações
Eu queria ser o teu sonho, para ser forte e doce, como os dias de verão, bonito e suave como as tardes de primavera.
Satisfazer teus desejos com os sabores das frutas maduras, quando chega o outono e poder defender-te da fria solidão da noite, como o cobertor que te aninha ao inverno.
Mas já não sou uma estação que te valha. O inferno ardente do meio-dia, na ira das minhas fraquezas, como verão sufocante, que afoga nossa vida em meio às lufadas de ar quente. Como um bafejo fétido de um moribundo.
O pálido das flores mortas ou morno que já não tem cor, uma esquálida lembrança que nada mais emociona.
O amargor de desvairadas decepções, um rancor incontido pela incompetência de fazer feliz, ao amor que um dia sorriu em meu caminho e sem cuidado deixei cair as folhas, como os galhos retorcidos e secos no outono.
O gélido das campinas vazias, que nenhum conforto oferece, a não ser a esperança de um dia encontrar num abraço, aquilo que já não há.
E assim as estações se passam, num calendário sem tempo, onde o tempo sepulta uma história, e eu sou o coveiro infeliz, que no desespero de sua sina, lança-se na tumba do passado, para ser enterrado com ela.
Talvez seja a melhor escolha. Desaparecer como louco, na heróica covardia de um fraco. Ser apenas o que se tornou: um fugidio e esquecido brilho, pavio apagado ao vento, no sopro das estações.
Talvez seja assim o ato, que desenlaça esta peça. No teatro da estupidez, deixar que o público saia, rasgando sua carne em apupos, aplaudindo a coragem da bela, que insensata heroína lançou-se nos braços da vida, lutando para ser feliz.
Talvez seja este o relógio, que tic-taqueia o ir dos segundos. Marretando o silêncio do tempo nas têmporas de meu espírito, massacrando inclemente minh’alma, esmagando-me com a força de cada estação.
E esta é a lágrima que escorre, misturada a um derradeiro sorriso. O sorriso maroto de quem espera o beijo incontido da morte, como via de liberdade ao prisioneiro atrelado pelas cordas de sua incapacidade.
É como uma espera singela... Por mais uma das estações.
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