terça-feira, 20 de outubro de 2009

Interrogações

Quantos desencontros são suficientes para construir um abismo?
Quantos sussurros calados são suficientes para forjar um desespero?
Quantos dias solitários são suficientes para semear a dúvida?
Quantas noites decepcionadas são suficientes para plantar a indiferença?
São perguntas que não se calam, porque brotam com os segundos, vão povoando lentamente os dias, marchando insolentes por cada olhar, ferindo de morte a alma.
São respostas cuspidas ao vento, que nos rasgam como navalhas afiadas no amargor de nossa insensatez.
São cicatrizes que não podem ser apagadas, pois foram cravadas no fogo da ira de uma paixão.
São desculpas rotas que desfalecem por sua inconsistência, deixando uma borra de fraqueza e desequilíbrio a enodoar a imagem depauperada de um ser ridículo.
São ondas nauseantes de uma compaixão que mata, que arrasta ao fundo da humilhação.
São farpas envenenadas que sucumbem o resto do amor-próprio e rasga o imo em rajadas de desencanto.
São pratos putrefatos de um tempo ido, onde a graça já se esvaiu como recipiente descuidado e entreaberto, cujo aroma precioso se esvai.
São os restos de uma vida não vivida, por alguém que já não vive o que antes pensou viver, e agora sucumbe ao tempo... de uma vida que o tempo não viu viver.

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