terça-feira, 20 de outubro de 2009

Frio

Como lâminas negras, as borbulhas do meu imo envenenam nosso ser.
Cortam minha própria carne e me expõem ao frio do cotidiano.
Já não há mais o riso, nem a luz do olhar, somente a dor e minha agonia.
É o efeito da desilusão que esculpe o desespero em meu pensamento.
Quanta tolice respingada, porque não contive a tempestade que me encharcava.
Mas, agora é tarde. Sangra e tão somente sangra.
Um sangue que se escorre às ocultas, silente e sorrateiro, embriagando a imaginação, desfazendo a vida em retalhos.
E se há um desejo inconfesso, perdeu-se no tempo, a enxurrada afogou, as lágrimas apagaram.
Tudo queima, como um fogo que me provoca, enquanto o frio me fustiga e me congela o olhar.
A indiferença sorve os últimos alentos que me serviam de ar. Nada mais resta a fazer... é o frio.

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