terça-feira, 23 de julho de 2013

Abandono



O negro dos teu cabelos colore a noite dos meus sonhos,
onde busco dos teus olhos o brilho.

Esgueiro-me pelos caminhos, cercado de lembranças, fugidio como quem se evade da vida tentando chegar a lugar nenhum,

Então tua boca sorri, e eu me perco entre o ódio e o amor.

Choro e grito em silêncio, no canto em penumbra do meu pensamento, onde ninguém vai me incomodar, porque são só personagens que povoam os devaneios de meu espírito.

Bebo o calor do café como se sorvesse teu gozo, e parece que ouço as notas desconexas de teus gemidos.

Quero correr pelas veredas, subir os píncaros gélidos, para que o afago do vento apague esta flama inclemente, mas meu corpo esculpe a recusa, como um eufemismo para minha fraqueza.

Um abandono pleno que me deixa prostrado sobre a cadeira, lendo na distância as notícias que o tempo desenha sobre o horizonte, nos passos e gestos das pessoas, nas ruas, nos jardins... em todo lugar.

E nessa quase morte, os acordes de uma guitarra me oferecem socorro... não me dizem nada... só me carregam em seus braços e me permitem vagar por entre os sentimentos que estendem, como roupas na janela da alma.

A música não me questiona... não me pergunta por onde vagueiam meus olhos... ela apenas me entende e me faz companhia enquanto agonizo na paz de um amor...nesse doce e terrível abandono.

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