terça-feira, 23 de julho de 2013

Fantasias

A travessura do teu olhar abraçou-se com teu sorriso e fez do meu coração retalhos.
        E assim, lépida como a corsa que atravessa os campos, conquistas o olhar das árvores que te bafejam a aura refrescante.

        Eu me revolvo na caverna de meus sonhos, me perco na melancolia das horas, escondido na quietude de uma febre que me consome o peito.
        Meu grito emudece fleuma que me entorpece, quando os olhos do mar bordam de turquesa o ar, enquanto o céu luta contra o rubor de suas faces, quando passas pela vida desfilando tua alegria.
        A verve que me embala os passos, rouba docemente o vigor do sorriso e o choro contido, liberta uma lágrima elegante que me rega a face.
        Por que? Por que? Por que?
        Já não quero entender a razão que me atormenta e compraz, essa relação que me fustiga o prazer e me delicia com dor.
        É terrível, mas inspirador.
É trágico, porém, como uma droga inebria.
Castiga, entretanto dá asas.
E porque consome, dá vida às fantasias, desfilando cenários e personagens, sentimentos e gestos, banhados de perfumes, cores, gostos e sons.
Tentar entender é loucura, pois só se pode sentir, sentir e viver essa aventura, que me desmancha em palavras, e me constrói na mente alheia.
Ela brinca comigo nos dias... até que as noites me matem e me façam renascer.

Adolescendo

Oh doce paixão da hora! Um desvairio encantador que rompe a barreira do sonho.
                Que entorpece meus sentidos e faz palpitante meu peito.
                Quando teus olhos brincam com minha imaginação, como dois meninos travessos sorrindo do meu embaraço.
                Minha boca resseca em meu anseio, como um convite para que venhas dessedentar-me com teus beijos.
                Tua voz me embala o desejo, quando lânguida, manhas em teus sussurros, como o sopro da aura morna numa tarde de verão.
                Não me importa. Sim, não importa!
                Eu quero somente me deliciar com a sensação adolescente do primeiro beijo, do primeiro toque, do primeiro tudo.
                Arder em febre e tremer com o calor que sobre frio pelo corpo, num arrepio da alma.
                Deixar-me perder no momento, sem que o tempo seja medida... sem que haja qualquer outro momento... mais ninguém... mais nada.
               

Abandono



O negro dos teu cabelos colore a noite dos meus sonhos,
onde busco dos teus olhos o brilho.

Esgueiro-me pelos caminhos, cercado de lembranças, fugidio como quem se evade da vida tentando chegar a lugar nenhum,

Então tua boca sorri, e eu me perco entre o ódio e o amor.

Choro e grito em silêncio, no canto em penumbra do meu pensamento, onde ninguém vai me incomodar, porque são só personagens que povoam os devaneios de meu espírito.

Bebo o calor do café como se sorvesse teu gozo, e parece que ouço as notas desconexas de teus gemidos.

Quero correr pelas veredas, subir os píncaros gélidos, para que o afago do vento apague esta flama inclemente, mas meu corpo esculpe a recusa, como um eufemismo para minha fraqueza.

Um abandono pleno que me deixa prostrado sobre a cadeira, lendo na distância as notícias que o tempo desenha sobre o horizonte, nos passos e gestos das pessoas, nas ruas, nos jardins... em todo lugar.

E nessa quase morte, os acordes de uma guitarra me oferecem socorro... não me dizem nada... só me carregam em seus braços e me permitem vagar por entre os sentimentos que estendem, como roupas na janela da alma.

A música não me questiona... não me pergunta por onde vagueiam meus olhos... ela apenas me entende e me faz companhia enquanto agonizo na paz de um amor...nesse doce e terrível abandono.