segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cinza

Eu te procuro na paz da manhã cinzenta...
Entre os lençóis amassados de uma janela fria...
De uma forma preguiçosa, os pingos escorrem pelo vidro choroso, enquanto as luzes confundem meus sentidos.
E a melancolia das formas que passam, enchem meus olhos na busca de tuas formas...
Perdi-me entre o marrom dos casacos e a cor cintilante dos neons em festa... em cada face uma história, em cada passo um destino...
Uma nesga de perfume pousa delicada no frágil sopro que varre o quarto, levantando o pó das lembranças.
E o gosto de um beijo escondido entre a fumaça de chocolate quente, lançou-me nos teus braços novamente, desalinhando teu cabelo em um carinho mais ousado.
Meu desespero corre pelas artérias da praça, enquanto um barco ao longe descansa no bailado do rio. Onde estás?
Teu sorriso fácil ecoando no ar, percorrendo a conversa de nossos olhares, fazendo companhia para nossas mãos entelaçadas.
Procurei no canto o roupão vermelho, discreto, uma testemunha muda de nossas loucuras... estou só. Já não há quem ouça minhas confidências, quem conheça minha insanidade, que compartilhe meus desejos mais ocultos...
Restou-me o silêncio das horas, como o discurso da despedida... duas xícaras sujas... com gosto de chocolate e a marca da tua boca.
Deixou-me de herança a saudade, como prenda uma dor, como esperança a paisagem... e o cinza desta manhã.

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