O sopro frio vespertino, cochicha
a manhosa madorna que me toma o corpo, brigando com a inquietude da mente...
onde andará o perfume que embriagou os olhos quando se contrapôs à luz pálida
do quarto?
Como
paga me deixou a saudade e saiu como chegou... em silêncio... sorrateira como
uma folha que pousa suave sobre a grama molhada.
Sequer
se importou com o olhar silente que beijava o horizonte e a lágrima contida
como um sentimento que se esconde atrás da cortina... onde está o sussurro que
espalhou pelo ar o arrepio de um beijo, toda a provocação dos sentidos?
Ainda
posso desenhar em meu sonho a doçura daquele momento... perdido entre as
árvores lá fora... como se buscasse completar uma obra irretocável... no afã de
reencontrar o caminho para aqueles braços.
A
chuva já não pode imitar teus beijos que me molharam a boca... o tempo
quedou-se quieto para me permitir ficar ali... na penumbra do teu aconchego...
esquecido da vida, num delírio em azul... como céu noturno em festa.
A
tarde então se vai... como a vela que se perde na imensidão das curvas do mar...
levando meu coração para longe.
Porém
a noite em chegança, grita meu nome pela rua, me arrastando de volta para o
quarto... me prende à janela como os braços de uma amante... buscando por teu
olhar.
Vem...
alimenta meu peito faminto, me alucina com teus carinhos.... e corre de mim em
sorrisos, como a criança que foge na esperança de ser alcançada.
Deixa
que eu te dê meu colo e te ofereça meu braço em um passeio às antigas, entre as
flores das bougainvilleas e as cores das roseiras... como duas almas tomadas
pela essência do amor.