Cada
esquina conta uma lembrança e cada passo murmura nossa história, enquanto eu
tento decifrar os segredos contidos pelas janelas fechadas.
O frio companheiro dessa tarde me abraça
com força, como amantes em delírio, numa
explosão de desejos.
Há um cheiro doce no ar, um aroma de
“não-sei-o-quê” que inebria os sentidos e me faz querer experimentar dessa
brisa.
Um tom cinza azulado me entorpece a
vista, como a visão daquele sorriso... maroto... banhado de uma deliciosa
malícia... bolinando meu coração,
Então me escondo entre as dobras do
sobretudo escuro, me encolho para dentro de mim, para ficar invisível ao mundo
e só ser encontrado por minhas lembranças.
A poça quase seca, espelho da minha
saudade, brinca com os pingos preguiçosos que caem como lágrimas de um artista
emocionado.
Cedo à oferta de um banco, que me
oferece seu regaço em meio ao jardim e me permito chorar.
E me aqueço no calor desse choro calado,
como em meio aos teus braços, onde teu afago bastava para me contar teus
segredos.
O vento rege as folhagens em sua dança,
para esculpir no ar o som dos teus sussurros, a voz dos teus gemidos, o
acalanto do nosso amor.
Volto à janela fechada, no desespero de
entrar, de encontrar o teu beijo com gosto de café com leite, enquanto sentas
em meu colo, para me falar de teus sonhos.
Eu te carregava no colo... te lançava
por entre almofadas, como quem embarcava em um barco... para terras d’álem
mar... paraísos perdidos no horizonte de nossos dias. Deixava-me assim morrer, quando tuas pernas me envolviam e teu seio
me provocava a boca, entre as dobras do um roupão.
Posso sentir ainda o pulsar de teu
coração, enquanto madornavas sobre meu peito, qual criança que se entrega
inocente.
Então com a crueldade de quem toma a
própria vida, os pingos aceleram o tempo e me convidam para longe dali.
Saio trôpego pelas calçadas, sob a
guarda atenta das marquises, observando a valha janela... fechada com seus
segredos... brincando com meu olhar.
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